Não é à toa que o tema “Inclusão” tem estado em pauta com frequência recentemente. Afinal, somos cerca de 45 milhões de brasileiros que se declaram com algum tipo de deficiência. E com o crescente envelhecimento populacional e o aumento da expetativa de vida das pessoas, as projeções indicam que até 2040 metade da população terá mais de 50 anos. Cada vez mais ativo, este público tem buscado um estilo de vida independente e moderno, demandando por infraestrutura, produtos e serviços que sejam capazes de atender às suas necessidades. Muito mais do que suprir a necessidade de alimentação, quando escolhemos um bar ou restaurante, estamos buscando uma experiência. Isso é comum à todas as pessoas. Entretanto, bares e restaurantes que pretendam ser inclusivos, aumentando seu alcance de público, precisam ter seu ambiente e seu pessoal preparados para estes clientes. Vou listar abaixo alguns tópicos que são essenciais para um estabelecimento inclusivo: ELIMINE AS BARREIRAS ARQUITETÔNICAS Um dos principais motivos que fazem os idosos quererem ficar em casa é a dificuldade em se locomover e o medo das quedas. Por isso, tanto nos acessos quanto dentro dos estabelecimentos, elimine os degraus e outros elementos que possam causar tropeções (como tapetes e capachos, por exemplo). Disponibilizar barras de apoio para que seu cliente possa eventualmente se apoiar no caso de perda de equilíbrio torna os caminhos fáceis e seguros. É importantíssimo ter rotas acessíveis, que são o trajeto a partir da rua, com corredores largos e livre de barreiras para que seu cliente possa chegar às mesas, balcões, sanitários e outras facilidades de forma segura tranquila. DIMINUA OS ESFORÇOS Aquele percurso relativamente longo que para os mais jovens é fácil de fazer, para as pessoas com dificuldade de locomoção pode ser bastante cansativo. Disponibilizar bancos e áreas de descanso, diminuindo as distâncias pode ser uma excelente estratégia de acolhimento. É imprescindível disponibilizar vagas de estacionamento reservado para este público o mais próximo possível da entrada do estabelecimento. MESAS E BALCÕES ACESSÍVEIS O ideal é que todas as mesas no salão sejam acessíveis, criando um ambiente de igualdade para todos os clientes. Mas, se isso não for possível, as mesas de refeição acessíveis devem estar identificadas e localizadas na rota acessível, preferencialmente distribuídas por locais variados do salão. Balcões de atendimento devem permitir a visualização de pessoas de várias alturas, sentadas ou em pé, com espaço suficiente para aproximação de pessoas em cadeira de rodas. No caso dos balcões de autosserviço, muito comuns em restaurantes do tipo self-service, a altura dos mesmos deve ser entre 75 e 85 cm, com apoio para as bandejas, para facilitar que idosos, pessoas com deficiência nos membros superiores, pessoas em cadeiras de roda e também as crianças possam se servir com segurança e autonomia. CUIDADO COM A ILUMINAÇÃO Uma iluminação mais intimista e relaxante é tendência de decoração para bares e restaurantes, pois cria um clima mais aconchegante e torna o visual dos pratos mais atrativo. Porém, tome cuidado com acessos pouco iluminados, pois podem causar acidentes e até mesmo uma sensação de mal-estar nas pessoas com baixa visão. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS ADEQUADAS Manter o cliente dentro do estabelecimento consumindo por mais tempo pode ser uma excelente estratégia para aumentar o ticket médio. Para isso é necessário ter instalações sanitárias acessíveis, que além de atenderem a todos os tipos de pessoas, são mais confortáveis por possuírem mais espaço para movimentação. É importante não se esquecer que banheiros acessíveis também devem ter um trocador para auxiliar as famílias com bebês. MELHORE A SINALIZAÇÃO E A COMUNICAÇÃO A sinalização é um elemento extremamente importante, pois auxilia a todas as pessoas a se orientarem nos ambientes. Normalmente associamos a sinalização com a comunicação visual escrita, porém, considerando que nem todo mundo enxerga com os olhos, é importante que seja previsto sempre mais de uma forma de sinalização. A norma técnica de acessibilidade pede que se utilize pelo menos duas formas associadas. Por exemplo: placas com texto em alto relevo e texto em braile, ou sinalização com texto e sinalização sonora. O importante é que a informação esteja sempre clara e objetiva. E por falar em comunicação, não podemos nos esquecer dos cardápios! Atenção com o tamanho das letras, pois com a idade nossa visão tende a diminuir. Também é importante disponibilizar o cardápio em braile (obrigatório por lei), texto em alto relevo, ou ainda em tablets com aplicativos para cardápio “falado”, pois nem todos os cegos sabem ser braile. Pessoas com deficiência auditiva precisam de um atendimento diferenciado em termos de comunicação. Algumas conseguem ler os lábios do outro, mas para isso acontecer é preciso estar de frente para a pessoa e o outro tem de falar pausadamente. Para o atendimento deste público, seria muito interessante que um dos funcionários possa se comunicar em Libras (Língua Brasileira de Sinais), porém, na falta desta pessoa, papel e caneta e uma boa dose de boa vontade podem ajudar. TREINE SEU PESSOAL A capacitação da equipe de atendimento é de extrema importância para que se possa dar um tratamento igualitário para todas as pessoas. Muitas vezes temos dificuldades em nos colocar na pele do outro e entender que cada um de nós tem as suas necessidades. Porém, com informação e treinamento é possível criar procedimentos sistematizados orientados para o cliente, proporcionando experiências incrivelmente diferenciadas não somente para aqueles clientes que possuem uma deficiência, mas para todas as pessoas. Mais do que simplesmente atender à legislação vigente, uma vez que o Estatuto da Pessoa com Deficiência obriga a existência de acessibilidade ambiental nos locais de uso público e coletivo, ser um estabelecimento inclusivo produz uma imagem extremamente positiva junto ao mercado, agregando valor ao negócio.