Com o avanço da vacinação e as perspectivas positivas para o turismo nacional no ano de 2022, as pessoas já começam a preparar suas viagens planejando os roteiros e programações. Neste momento pesquisamos os melhores hotéis, pousadas e também os espaços culturais e atrações que iremos acompanhar, fazendo planos para aproveitar o período da melhor forma possível.
Estas experiências e relações com os espaços são importantíssimas na vida de todos, afinal, os lugares com os quais as pessoas têm contato possuem forte influência sobre suas vidas. No entanto, inúmeros são os equipamentos culturais e de lazer que não podem ser utilizados por todas as pessoas: espaços em más condições de acesso e circulação, que não possuem acessibilidade, acabam por impossibilitar que idosos e pessoas com deficiências e/ou mobilidade reduzida os visitem.
Mas por quê a acessibilidade em patrimônios históricos é importante?
Laura Martins, criadora do blog Cadeira Voadora, comentou na live que realizamos no Mês da Acessibilidade:
“Quando tiramos da pessoa com deficiência a oportunidade de frequentar os mais diversos lugares, onde ela pode aprender, onde ela pode conhecer outras visões de mundo, a gente está tirando muito mais do que a gente pensa… a gente está tirando a possibilidade de formar personalidades”.
Laura Martins, blogueira e escritora
Espaços acessíveis garantem o acesso à história, cultura, à arte e muitos outros elementos essenciais para a construção de nossas identidades. Muitos destes espaços são patrimônios tombados, mas isso não pode ser um impedimento para que haja acessibilidade, dada sua importância social. As intervenções que buscam promover a acessibilidade e melhor mobilidade nos patrimônios tombados têm impacto positivo de grande alcance, qualificando estes espaços e valorizando a circulação de pessoas, aumentando o uso desses equipamentos e favorecendo o contato com elementos culturais importantes para a identidade regional e nacional.
Acessibilidade e patrimônio – marcos legais que devem ser cumpridos
De acordo com o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão responsável pela preservação e divulgação do patrimônio material e imaterial do país, discutir sobre a mobilidade e acessibilidade em áreas tombadas é essencial na gestão do patrimônio, pois, ainda que o país possua uma legislação bem delineada sobre as questões de acessibilidade nos espaços, há muito o que se feito para garantir que as leis sejam cumpridas.
O principal desafio é fazer cumprir estas regulamentações e realizar as intervenções necessárias para garantir o acesso de todas as pessoas de forma conjunta à preservação do espaço. Para que as medidas sejam compatíveis, devem ser planejadas e realizadas de forma a manter as características do patrimônio. Para isso, arquitetos especializados devem fornecer as orientações necessárias para garantir a acessibilidade e melhor mobilidade nos conjuntos urbanos tombados de forma preservar sua estrutura.
O que pode ser feito em relação à acessibilidade nestes ambientes?
Para que as ações sejam compatíveis, devem ser planejadas e realizadas de forma que não produzam descaracterização do patrimônio cultural. O Brasil é referência nas leis de acessibilidade, e, no entanto, há muito que ser melhorado em relação às ações de acessibilidade nestes espaços.
Cabe ressaltar que a acessibilidade deve ser pensada de forma interdisciplinar, pois é um conceito que, como destacamos em outros materiais aqui no blog, envolve diversas dimensões. É preciso pensar no deslocamento até chegar ao espaço cultural, como ônibus com plataforma elevatória, calçadas adequadas, com rebaixamentos para proporcionar o acesso ao espaço e também proporcionar uma sinalização e comunicação completa e adequada para que todos consigam chegar às atrações turísticas.
O fato de o prédio ser tombado não pode ser impedimento para a adoção de soluções de acessibilidade, pois diversas são as possibilidades que podem ser utilizadas de acordo com a estrutura do patrimônio, para torná-lo mais acessível.
Algumas alternativas podem auxiliar para tornar o espaço mais acessível para todas as pessoas, como:
- Se há mesas, bancadas ou balcões no ambiente, estes devem ter altura adequada para que pessoas sentadas ou em pé consigam utilizá-los.
- Os ambientes devem ter amplo espaço de circulação e ser bem iluminados.
- Plataformas elevatórias podem ser utilizadas para ambientes com escadas ou desníveis no piso.
- Espaços anexos são ótimas soluções para a instalação das plataformas elevatórias caso a estrutura do patrimônio seja limitante.
- Banheiros acessíveis com amplo espaço, barras de apoio e peças sanitárias adequadas.
- Em relação às exposições e demais elementos culturais, é importante pensar na sua percepção sempre por mais de um sentido: o uso de escrita tátil em Braille, de audiodescrição e obras em alto relevo são essenciais para que o maior número possível de pessoas consiga ter acesso aos equipamentos.
- Em relação à comunicação, a presença de intérpretes de LIBRAS e o uso de legendas em peças audiovisuais também são essenciais.
É importante que o site também seja acessível pois, antes de ir até o destino, as pessoas buscam informações na internet. O acesso à informação é fundamental e, por isso, a construção do site e a organização dos conteúdos precisa ser acessível, para que quem deseja visitar o espaço compreenda as informações. É importante também explicitar qual o nível de acessibilidade daquele espaço, se possui meia entrada para pessoa com deficiência e seu acompanhante, por exemplo, e também se existem equipamentos de áudio ou comunicação tátil.
Por conta da complexidade e dos diversos níveis de acessibilidade, é muito difícil encontrar equipamentos de lazer e patrimônios culturais que sejam completamente acessíveis. Este é um processo que deve ser planejado com a orientação de profissionais especializados e alguns lugares conseguem chegar muito próximos ao nível ideal.
Pelourinho, um exemplo em solo brasileiro
Um exemplo positivo é o Pelourinho, em Salvador – BA. O conjunto urbanístico e arquitetônico no centro histórico de Salvador foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco em 1985 e em 2012 passou pelo Projeto “Pelô Acessível”, que estabeleceu uma rota acessível no local.
Dentre as intervenções no espaço, foi promovido o alargamento de calçadas, de forma a contemplarem a legislação brasileira, passarelas e travessias para cruzar a rua, recuperação e nivelamento de ruas e construção de rampas entre as escadas. As soluções foram projetadas por arquitetos com todo o cuidado para prover o acesso e manter as características de um patrimônio tão importante.
O projeto completo foi disponibilizado por Laura Martins, como forma de tornar público um exemplo de como é possível repensar os espaços urbanos e facilitar seu acesso ao maior número possível de pessoas. Para acessar o livro completo, clique aqui. Você também pode acessar a publicação que Laura produziu para seu blog, Cadeira Voadora, onde ela apresenta ricos detalhes sobre a execução deste projeto tão importante a partir de uma entrevista com Alexandre Baroni, da Superintendência dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Sudef, além de relatar sua experiência visitando o Pelourinho. Para acessar a publicação de Laura, clique aqui.
Implementar a acessibilidade é um processo
As questões relativas à acessibilidade dos espaços tombados e patrimônios históricos não são resolvidas num passe de mágica: é preciso um planejamento cuidadoso e o estabelecimento de metas, que vão sendo atingidas ao longo do tempo.
No entanto, soluções acessíveis para estes espaços são possíveis e importantíssimas para a construção de um mundo mais justo e inclusivo. Quando temos acesso à cultura, à arte e à diversidade, ampliamos as possibilidades para nos tornarmos mais tolerantes e contribuir para a transformação social. Com a orientação de profissionais especializados, os espaços podem ser repensados a partir das pessoas e dos possíveis usos que podem fazer destes.
Se você se interessou pelo assunto e quiser saber mais sobre turismo acessível, recomendamos a leitura do blog de Laura Martins, o Cadeira Voadora. Se você quer encontrar soluções para espaços centrados nas pessoas e que atendam às demandas de acessibilidade, agende um horário com Angélica Picceli, nossa especialista em Arquitetura Inclusiva. Você pode contatá-la pelo e-mail contato@studiouniversalis.com.br ou pelo telefone/WhatsApp (31) 98797-2392.